Família

 
 Hora da alimentação
 
Preocupações com o emprego, com as tarefas da casa, a família e aquele problema que precisa resolver. Debaixo do mesmo teto, o pai que precisa trabalhar, o adolescente que precisa estudar... e é quando se percebe que a correria tomou conta da família. Um dos poucos momentos de pausa no dia, a hora da refeição pode ser importante para unir pais e filhos.

O hábito de sentar à mesa todos juntos para almoçar ou jantar tem se perdido ao longo dos anos. “O mundo pós-moderno tem essa característica de diminuição de tempo. As pessoas estão com muito mais pressa, mais responsabilidades e preocupações”, explica o psicólogo Fábio Augusto Caló.

A evolução da tecnologia também facilitou a mudança dos costumes na hora de comer. O micro-ondas é o principal símbolo dessa transformação, uma vez que permite cada um esquentar seu prato na hora que desejar, sem precisar aproveitar o momento em que a comida está quentinha no fogão.

Mesmo com a facilidade proporcionada pelos eletrodomésticos e comidas congeladas, e apesar das dificuldades em mudar a rotina de correria, o psicólogo alerta que vale a pena o esforço para manter o hábito da pausa para comer em família.

“A correria traz distanciamento e dificulta a comunicação, que é o principal problema nos relacionamentos atualmente. Os filhos conhecem muito pouco dos pais e, consequentemente, os pais sabem pouco da vida dos filhos. Com certeza vale a pena fazer um esforço maior ou até investir um pouco mais – no caso de trabalhar longe de casa – para que a convivência permita transmitir valores e princípios aos filhos, que não serão adquiridos plenamente quando se conversa apenas uma vez por semana”, finaliza Caló.
Fonte: Bolsademulher

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A Comunicação Familiar: entre o casal, irmãos, filhos e com amigos dos filhos

A comunicação é uma arte. Não apenas uma forma de expressão, é além disso uma necessidade para o ser humano, é uma capacidade especial que supõe entregar-se ao outro.

A comunicação não está apenas nas palavras. As palavras por si só não comunicam nada. Quando por trás das palavras há vida e sentimento, quando por trás dos gestos existe um ser humano, se dá então a possibilidade de escutar para quem ouve e de ser aceito para quem fala: é o momento da comunicação. A experiência da linguagem familiar é incomparável, se diria que algumas palavras são únicas e fazem parte dos sentimentos daqueles que ali convivem, nada representam aos estranhos porque é a linguagem da intimidade com características de compreensão e aceitação.

QUALIDADES E CARACTERÍSTICAS DA BOA COMUNICAÇÃO:

•  Permanente: sempre é possível realizá-la
•  Aberta: há disposição de dar e receber
•  Íntima: se estabelece de você a você, de um eu a nós
•  Equivalente: permite relação de igualdade entre aqueles que se comunicam
•  Sincera e autêntica: Facilita uma entrega sem duplicidade nem enganos
• Desinteressada: não busca o benefício próprio. A doação desinteressada recebe como gratificação a própria melhora e a alegria de poder ajudar o outro a melhorar.
• Intencionada: ambas partes devem querer comunicar-se. Quando uma parte falha deixa de haver comunicação
• Compreensiva: sabe aceitar ao outro, colocar-se no lugar do outro (under-stand)
• Humilde: deve-se saber reconhecer as qualidades e limitações próprias e dos outros para poder comunicar.

FOMENTAR A COMUNICAÇÃO

Quando nos comunicamos de forma apropriada e positiva, sentimos uma sensação satisfatória. Enche-nos de satisfação o compartilhar, sentimo-nos mais seguros de nós mesmos e temos maior confiança no que somos e podemos. O sentimento de segurança nos anima e o ânimo dá alegria quando, diariamente, tentamos cumprir esses detalhes que fomentam a comunicação.

A COMUNICAÇÃO DO CASAL

A comunicação no matrimônio é manter uma disposição pessoal de ajuda ao outro, de confiança em suas possibilidades, de interesse por sua melhora. Se a comunicação conjugal é satisfatória toda a relação é vista com otimismo, visando o bem e o equilíbrio. Uma comunicação familiar plena é a base da felicidade familiar. A harmonia conjugal permite uma adequada educação dos filhos na medida em que estes se veem livres dos problemas e dificuldades dos pais, e se sentem guiados e amados por pais que caminham juntos.
A comunicação entre marido mulher necessita de naturalidade para dizer-se as coisas como são, com sinceridade. Requer espontaneidade, para fazê-lo com graça, sem carga dramática. Deve ser simples, para evitar duplas interpretações. Dentro desse grande universo que compõe a comunicação conjugal, podem distinguir-se sete pilares fundamentais. Todos e cada um devem ocupar um tempo e um lugar na convivência diária do casal e em sua comunicação.

OS SETE PILARES DA COMUNICAÇÃO DO CASAL

1- Os valores: compartilha-se o íntimo e pessoal, as convicções profundas.
2- Os sentimentos e os afetos: todas essas “pequenas grandes coisas” que se contam os que se amam
3- Os filhos e o lar: os filhos e o próprio lar, são temas obrigatórios de conversação entre os esposos
4- O trabalho profissional: esse interesse pela atividade do outro
5- A sexualidade: caminhará bem quando a vida de comunicação e relação funciona
6- A família política (parentes): com boa diplomacia se garante a comunicação e se impedem atritos desnecessários entre os esposos
7- O dinheiro e a economia doméstica: deve-se compartilhar tanto a escassez como a abundância.

A crise no matrimônio pode originar-se às vezes por uma comunicação defeituosa. A própria crise em si supõe uma ruptura da comunicação. Esta ruptura se manifesta de forma aberta quando o trato e o diálogo deixam de existir. Ou pode aparecer de forma velada quando se continua a relação a base de monossílabos. Em todo caso o que se pretende é que estes momentos de desacordo conjugal sejam transitórios e leves, graças à boa vontade dos cônjuges.

A COMUNICAÇÃO COM OS FILHOS PEQUENOS

Durante os primeiros anos de vida, a relação com os filhos costuma ser tranquila. A eles lhes encanta estar com seus pais, os admiram e lhes contam tudo. Por isso é a época ideal para concretizar uma sólida comunicação com eles. Uma comunicação aberta entre pais e filhos.

Para isso é conveniente fazer perguntas, dar-lhes a possibilidade de que encontrem soluções por si próprios, deixar-lhes falar tudo o que for necessário. Com isso estamos dando-lhes a oportunidade para que aprendam a expressar corretamente o que pensam e sentem e o aprendam a transmitir.

Devemos eliminar frases de carga negativa, pois destrói a possibilidade de uma comunicação positiva. No entanto a serenidade e o afeto levam a criança a uma resposta apropriada, damos a chance de ser sinceros.

Lembre-se: Os pais devem estar de acordo e ter o mesmo critério. Do contrário os filhos se desorientam, ou interpretam mal o que lhes foi falado e o resultado é a falta de obediência.

OS CASTIGOS

Para que a comunicação com os filhos não produza falhas na relação, os pais devem tentar ser justos em um tema tão complicado como o dos castigos. Para que os castigos sejam eficazes educativamente e não deteriorem a comunicação são necessárias algumas condições:

Poucos: quando se castiga continuamente, perde-se a eficácia.
Curtos: é importante que a criança saiba o porquê de sua má atuação.
Proporcionados: o castigo deve ser imposto em função da falta cometida.
Educativos: pelo castigo a criança aprende a modificar sua conduta inadequada. Os melhores castigos são os que favorecem o hábito contrário.
Compreendidos: a criança precisa compreender o porquê do castigo.
Imediatos: o castigo deve ser aplicado logo após sua ação. Ele torna-se pouco eficaz quando deixado para o dia seguinte.
Avisados com antecedência: é mais eficaz que a primeira vez argumente por que isso está errado e se advirta que da próxima vez haverá um castigo.
Cuidado! Se o castigo cumpre as condições que repassamos, aplique-o. Se suspendemos os castigos ante as súplicas dos filhos, eles acostumam mal e não aprendem a corrigir seus erros.

A COMUNICAÇÃO COM OS FILHOS MAIORES

Com a chegada da adolescência os filhos tendem a mostrar um sentido crítico com relação a seus pais e se produzem alguns sinais de alarme que podem preocupá-los.

Ainda que possa parecer que os adolescentes são pouco receptivos, necessitam de seus pais e de serem ouvidos para que possam encontrar a solução de problemas que os inquietam.

Necessitam ser ouvidos muito mais do que imaginamos. Se percebem nosso interesse, se animam em contar suas confidências. Se somos como muros no qual rebatem suas melhores tacadas, terminarão buscando outro “local” para jogar. Se ele não conta devemos perguntar sobre suas coisas e eles percebem se existe um interesse real ou se perguntamos apenas por rotina.

Para uma relação de amizade é necessário muito diálogo. Falar é coisa de dois. Quase sempre a conversação surgirá de forma espontânea. As reuniões de família são um bom momento para se criar um clima de maior crescimento, estabilidade e segurança para os filhos.

OS AMIGOS DOS FILHOS

Se quisermos dar um valor verdadeiro e completo aos esforços realizados em nossa família devemos ter presentes os amigos de nossos filhos. Primeiro porque o que nossos filhos aprendem de bom em casa o levarão para fora, “contagiarão” seus amigos e amigas e se dará um efeito multiplicador na sociedade. E, segundo, porque o negativo que nossos filhos veem em seus amigos lhe parecerá chocante, e então nos ajudará a educar os filhos no verdadeiro sentido da amizade que comporta lealdade e generosidade.

Não devemos ter medo de falar claro aos filhos com respeito a uma amizade, atitude ou comportamento inconveniente. Faremos com prudência e carinho e sem ofender ao amigo ou amiga, mais sendo o suficientemente claros nos conceitos para que não fique nenhuma dúvida.

Temos que buscar qualquer circunstância ou fato negativo que possa ser produzido por parte de um amigo. Esclarecê-lo o quanto antes é a melhor forma de cortar pela raiz o que poderia chegar a ser um mal grave (por exemplo: roubos, beber escondido, fumar...)

Podemos convidar aos pais e aos filhos para que venham a nossa casa, para que nos conheçam e saibam como pensamos. É uma boa ocasião para ensinar com o exemplo como se realiza a vida de relação, o saber estar e o saber compartilhar.

A COMUNICAÇÃO ENTRE IRMÃOS

É preciso considerar, não apenas em teoria mas na prática, que cada filho tem uma personalidade própria, com algumas virtudes e alguns defeitos pessoais. Cada filho, mesmo vivendo no mesmo ambiente que seus irmãos, recebe de modo diferente os mesmos estímulos, adquire diferentes experiências e, em definitivo, tem uma biografia própria e diferente de seus irmãos. A cada um dos filhos cabe esperar diferentes aspirações e realizações pessoais. Cada um deles tem uma excelência pessoal própria. Há alguns costumes que devemos inculcar nos filhos desde pequenos, como: pedir “por favor”, dizer “obrigado” e “pedir perdão” – são atitudes fundamentais de uma boa educação e de reconhecimento da dignidade dos demais.

As relações entre irmãos poderiam ser qualificadas como divertidas, complexas e contraditórias. Irmãos se beijam e brigam entre si, se defendem com unhas e dentes ante os estranhos e formam uma equipe quando têm um objetivo comum. Nossos filhos passam por uma idade de ouro na qual muitos pais gostariam de manter. São pequenos diamantes a lapidar que amanhã podem converter-se em joias preciosas.

A simpática e estranha maneira de comportar-se entre irmãos é que deve nos servir como ponto de partida para educá-los no aspecto da convivência familiar. Se o soubermos fazer, conseguiremos que essas histórias de amores e cuidados se convertam em verdadeira amizade e colaboração e compreensão em serviço mútuo.

Se conseguirmos que nossos filhos estejam unidos a nós, estaremos em condições de influenciá-los para que estejam unidos entre si. Na realidade é o único caminho possível para conseguir que haja uma autêntica convivência entre os irmãos e se produza uma comunicação fluente. No fundo se trata de ensinar a amar. Aprender a amar os irmãos requer efetivamente uma aprendizagem.

Quando os filhos veem amor e recebem afeto, aprendem a desenvolver o que recebem. A criança que está acostumada a ver entre seus pais e irmãos compreensão e afeto, assume isto como algo natural e, portanto o assume como próprio. Se o ambiente no qual são criados carece de amor, é possível que mais tarde “ame” ao seu próprio estilo, “ame” egoisticamente.

Devemos procurar encontrar os meios com os quais se deve atuar em cada caso concreto, para que realmente os irmãos se queiram entre si. Temos de conscientizar os maiores de que são observados permanentemente pelos menores. É uma razão a mais para que os maiores atuem com correção, já que é muito importante o exemplo que dão. Nosso papel é reforçar a autoridade dos maiores ante os menores.

Os atritos entre irmãos, prejudiciais e incômodos nas aparências, constituem realmente uma ajuda para que se formem em seu sentimento de sociabilidade, conheçam a insegurança e desenvolvam sua personalidade afirmando-se frente aos outros.

Apesar de ser natural que existam atritos entre irmãos podemos sugerir alguns tópicos que ajudem a melhor direcioná-los. Algumas regrinhas de ouro para a convivência:

-   Responsabilidade entre irmãos (uns pelos outros).
-   Participação familiar (a família é de todos).
-  Respeito pelas coisas e objetos alheios (pedir emprestado, devolver, guardar segredo, bater a porta do quarto antes de entrar,...)

O nível de trato e convivência entre irmãos depende do afeto real que tenham entre si porque às vezes surgem brigas por coisas sem importância. Nem nossos filhos nem nós somos perfeitos e é quase impossível evitar atritos e incompreensões. Entretanto, devemos evitar que estas tormentas se cristalizem e se convertam no estilo da família.

O final feliz das situações de conflito inclui o perdão e a reconciliação.

A COMUNICAÇÃO FAMILIAR É O CAMINHO PARA A FELICIDADE

Fonte: IDE - Instituto de Desenvolvimento da Educação

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Álcool e adolescência

·         Alessandra Diehl
·         Gisele dos Reis Coutinho

Prevenir e reduzir o beber entre adolescentes é uma responsabilidade coletiva,
 que requer o envolvimento e a parceria das autoridades governamentais,
das famílias e da comunidade

            O álcool, sem dúvida, tem um importante impacto no cérebro dos adolescentes, não podendo ser considerado um “produto qualquer”. Até bem pouco tempo, os pesquisadores acreditavam que o nosso cérebro estava completamente amadurecido até o final da adolescência, sendo este um período de intenso processo de desenvolvimento e  maturação cerebral. No entanto, as descobertas atuais apontam para o fato de que o nosso cérebro sofre um processo de maturação até os 25 anos.
            De modo geral, durante a adolescência, as regiões cerebrais que nos dizem “Vá em frente”, representadas pela região límbica, amadurecem mais rapidamente do que aquelas que nos dizem “Não faça isso”, representadas pelo córtex pré-frontal. Portanto, não é difícil imaginar que, se o uso de bebidas alcoólicas ocorrer durante essa fase de amadurecimento cerebral, será observada uma série de consequências que comprometem a delicada arquitetura e o funcionamento de neurotransmissores em desenvolvimento, afetando a capacidade cognitiva e de aprendizagem, assim como o comportamento de controle dos impulsos e emoções nos adolescentes, que se encontram em um contexto de formação das habilidades mencionadas, especialmente relevantes entre seus pares.
            Muitos de nós – pais, professores e profissionais da saúde – sabemos que o uso de álcool é um grave problema de saúde pública no Brasil e em vários outros países. O álcool, uma substância legal, é a droga mais largamente consumida por jovens do mundo todo. Em uma tendência quase mundial, tem-se observado que o hábito de beber está aumentando gradativamente entre as meninas e, em alguns locais, supera o índice entre meninos da mesma idade. Os adolescentes brasileiros estão iniciando o uso de álcool cada vez mais cedo (em média aos 13,9 anos) e passando a um uso regular de álcool também muito rapidamente (em média aos 14,6 anos), sendo que 24% desses mesmos adolescentes bebem pelo menos uma vez ao mês.
            O bebê típico dos adolescentes é conhecido como beber em binge. Em geral, eles bebem muito em curto espaço de tempo ou em uma única ocasião. Esse padrão de consumo promove elevados níveis de álcool e, por conseguinte, aumenta a vulnerabilidade desses jovens a sérios riscos. A realidade de muitos dos adolescentes que concluem o ensino médio é manter ou agravar o padrão de beber após o ingresso na faculdade. São demasiadamente conhecidas as inúmeras “chopadas” em diversos campi espalhadas pelo país afora, onde são promovidas festas regadas a muita bebida – e, sobretudo, bebida barata.
            Esse uso durante a adolescência predispõe os jovens a uma série de riscos, tais como violência interpessoal, mais brigas e argumentações negativas com os pais, problemas na escola no dia seguinte ao beber, iniciação sexual e gravidez precoce  (com arrependimento posterior), acidentes de trânsito, traumatismos, quedas, suicídio, diminuição do desempenho acadêmico, envolvimento em atividades criminais e risco aumentado de dependência do álcool. Jovens que começam a beber antes dos 15 anos têm quatro vezes mais chances de desenvolver dependência na vida adulta e duas vezes e meia mais chances de se tornar abusadores de álcool do que aqueles que começam a beber após os 21 anos.
            Beber em um padrão característico de dependência já ocorre em cerca de 7% dos adolescentes de 12 a 17 anos dos maiores centros brasileiros. Isso significa dizer que muito provavelmente estamos falando de jovens que podem apresentar tremores das mãos, náuseas e vômitos ao acordar pela manhã, suores pelo corpo durante a noite  por já terem uma constelação de sintomas característicos de abstinência do álcool, além de intensa vontade de beber novamente, o que chamamos de “fissura”: uma vez iniciado o uso, não conseguem mais controlar-se e bebem até ver o fim de todas as garrafas de bebidas que estão por perto. Soma-se a isso um progressivo desinteresse por outras atividades que outrora eram prazerosas, e o álcool vai ocupando cada vez mais espaço durante o dia do jovem.
            No Brasil, a compra e a venda de bebidas alcoólicas para jovens antes de 18 anos é proibida por lei há muito tempo. Infelizmente, porém, a maioria dos jovens ouvidos em algumas pesquisas considera que comprá-las no país é fácil ou muito fácil, sendo que 87,4% deles acha especialmente fácil adquirir cerveja em casa, em festas de 15 anos, bares, supermercados e até mesmo em festas juninas da escola, enquanto apenas, 1,1% já tentou comprar bebida alcoólica e não conseguiu.
            O governo do estado de São Paulo, na vanguarda das políticas públicas, decidiu acertadamente investir seus esforços em fiscalizar uma lei que já existe e assim punir estabelecimentos que vendam, facilitem ou permitam o consumo de bebidas (uma droga ilícita e amplamente disponível, mas sem um mercado regulado) para jovens abaixo de 18 anos, com a criação de uma lei que prevê punições aos infratores.
            O uso de álcool durante a adolescência tem um elevado custo financeiro e outros tantos custos associados à dor e ao sofrimento de muito jovens e suas famílias, que talvez não seja algo facilmente mensurável em números. Nos estados Unidos, por exemplo, o custo associado ao beber entre menores foi de US$62 bilhões em 2010. Desse valor, US$1,3 milhão foi gasto devido à síndrome alcoólica fetal em grávidas adolescentes (já que a idade mínima para dirigir naquele país é 16 anos) e US$2,5 milhões em tratamento de jovens devido a transtornos relacionados ao abuso de álcool.
            Se esse dinheiro fosse poupado pela não necessidade de ser gasto com tais finalidades, seria possível revertê-lo para outras tantas atividades voltadas à formação e ao fortalecimento de várias habilidades e fatores protetores  dos  nossos jovens. Na verdade, para cada US$1 investido em atividades de prevenção, são economizados US$10 em tratamento no futuro, o que denota que prevenção segue valendo a pena.
            Então, se reduzir o beber entre adolescentes continua sendo algo desafiador diante de estatísticas tão assustadoras e das modestas conquistas dos últimos anos em muitos países, inclusive aqueles desenvolvidos e mais ricos, como estados Unidos, Inglaterra e Austrália, será que realmente existe um erro pedagógico em nossa sociedade e em nossas mensagens aos jovens? Tudo indica que sim, já que vivemos – particularmente no Brasil – em uma cultura que associa a cerveja à ideia de felicidade, sensualidade, propriedades refrescantes e, sobretudo, a nossas “paixões nacionais”, como o futebol, a música e o carnaval.
            Até mesmo ídolos consagrados, símbolos de beleza, inocência e juventude, como a cantora Sandy,  em  recente propaganda de uma marca de cerveja com o slogan “Todo mundo tem o seu lado devassa”, vendem a ideia de que parece não existir ninguém “tão careta assim”. Então se pressupõe que “Tudo bem beber e que, aliás, você vai ficar mais interessante se beber”. Não é de hoje que a indústria do álcool tem-se dedicado a atrair novos consumidores, com maciça publicidade e estratégias de marketing  ao público jovem. Alguns exemplos são o festival da música Skol Bits e a crescente introdução no mercado das bebidas chamadas “tipo ice”, com menor teor alcoólico.
            A família também exerce uma importante influência no uso de álcool durante a adolescência e contribui com algumas das estratégias pedagógicas equivocadas. Estudos  indicam que o chamado “uso supervisionado”, que ensina o beber responsável e com
moderação durante a adolescência, dentro de casa ou junto com os pais, por exemplo, traz sérios riscos de evoluir para o uso em um padrão nocivo e até mesmo de dependência quando esses jovens vão para a faculdade. O chamado uso supervisionado parece não transmitir uma mensagem de beber seguro. Por outro lado, adolescentes que não bebem assim e postergam o início do uso de álcool para além da adolescência têm menos chances de desenvolver alcoolismo ou beber de forma perigosa e nociva à saúde no futuro.
            Medidas de prevenção de uso, abuso e dependência de álcool entre os adolescentes têm sido adotadas com o lema “Comece a falar antes que eles comecem a beber”. Nesse sentido, têm crescido as recomendações de especialistas para que a escola possa também se apropriar da tarefa de reduzir o hábito de beber entre adolescentes. Essas estratégias vêm sendo amplamente disseminadas pelo Pacific Institute for Research and Evaluation (PIRE) há muitos anos em congressos e atividades diversas, ligadas a um local chamado Underage Drinking Enforcement Training Center.
            Entre as constatações, está a de que as campanhas de conscientização e educação sobre “beber de forma segura” na escola e na comunidade irão possivelmente gerar resultados limitados. Escolas que adotam a postura de “não beber nada”, programam as estratégias sociais e legais relacionadas ao não beber antes da idade permitida por lei e fiscalizam essas leis, denunciando os estabelecimentos das imediações dos colégios que  estão vendendo bebidas para adolescentes, muito provavelmente às primeiras. Desse modo, festas realizadas na escola ou com a participação de alunos não podem permitir a venda de bebidas alcoólicas, nem mesmo o famoso vinho quente ou quentão em festas juninas ou nas tão sonhadas e aguardadas festas de 15 anos.
            As velhas e as novas mídias, incluindo as mídias ambientais (por exemplo, banheiros de “baladas” frequentadas por jovens) e sociais, como facebook, Twitter e Youtube, podem ser fontes de divulgação de matérias sobre prevenção do beber entre adolescentes, com trabalhos e histórias de sucesso feitos por e para adolescentes. É preciso incluí-las no processo de conscientização na escola e nas comunidades, desconstruindo diversos mitos e falsos heróis que associam a diversão e o prazer única e exclusivamente ao beber.
            Portanto, prevenir e reduzir o beber entre adolescentes é, sem dúvida, um problema complexo e um desafio que não demanda uma solução simples, mas também é uma responsabilidade coletiva que requer o envolvimento e a parceria das autoridades governamentais, das famílias e da comunidade para modificar essa cultura que ainda ameaça o bem-estar imediato e a longo prazo de muitos jovens, bem como daqueles ao seu redor.

·         Alessandra Diehi é psiquiatra da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD/UNIFESP), especialista em Dependência Química e Sexualidade Humana.
·          Gisele dos Reis Coutinho é psicóloga, especialista em infância e adolescência.

Fonte: Revista Pátio Ensino Médio. Ano 4. Nº 1.Março/Maio 2012

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