Hora da alimentação
Preocupações
com o emprego, com as tarefas da casa, a família e aquele problema que precisa
resolver. Debaixo do mesmo teto, o pai que precisa trabalhar, o adolescente que
precisa estudar... e é quando se percebe que a correria tomou conta da família.
Um dos poucos momentos de pausa no dia, a hora da refeição pode ser importante
para unir pais e filhos.
O hábito de sentar à mesa todos juntos para almoçar ou jantar tem se perdido ao longo dos anos. “O mundo pós-moderno tem essa característica de diminuição de tempo. As pessoas estão com muito mais pressa, mais responsabilidades e preocupações”, explica o psicólogo Fábio Augusto Caló.
A evolução da tecnologia também facilitou a mudança dos costumes na hora de comer. O micro-ondas é o principal símbolo dessa transformação, uma vez que permite cada um esquentar seu prato na hora que desejar, sem precisar aproveitar o momento em que a comida está quentinha no fogão.
Mesmo com a facilidade proporcionada pelos eletrodomésticos e comidas congeladas, e apesar das dificuldades em mudar a rotina de correria, o psicólogo alerta que vale a pena o esforço para manter o hábito da pausa para comer em família.
“A correria traz distanciamento e dificulta a comunicação, que é o principal problema nos relacionamentos atualmente. Os filhos conhecem muito pouco dos pais e, consequentemente, os pais sabem pouco da vida dos filhos. Com certeza vale a pena fazer um esforço maior ou até investir um pouco mais – no caso de trabalhar longe de casa – para que a convivência permita transmitir valores e princípios aos filhos, que não serão adquiridos plenamente quando se conversa apenas uma vez por semana”, finaliza Caló.
O hábito de sentar à mesa todos juntos para almoçar ou jantar tem se perdido ao longo dos anos. “O mundo pós-moderno tem essa característica de diminuição de tempo. As pessoas estão com muito mais pressa, mais responsabilidades e preocupações”, explica o psicólogo Fábio Augusto Caló.
A evolução da tecnologia também facilitou a mudança dos costumes na hora de comer. O micro-ondas é o principal símbolo dessa transformação, uma vez que permite cada um esquentar seu prato na hora que desejar, sem precisar aproveitar o momento em que a comida está quentinha no fogão.
Mesmo com a facilidade proporcionada pelos eletrodomésticos e comidas congeladas, e apesar das dificuldades em mudar a rotina de correria, o psicólogo alerta que vale a pena o esforço para manter o hábito da pausa para comer em família.
“A correria traz distanciamento e dificulta a comunicação, que é o principal problema nos relacionamentos atualmente. Os filhos conhecem muito pouco dos pais e, consequentemente, os pais sabem pouco da vida dos filhos. Com certeza vale a pena fazer um esforço maior ou até investir um pouco mais – no caso de trabalhar longe de casa – para que a convivência permita transmitir valores e princípios aos filhos, que não serão adquiridos plenamente quando se conversa apenas uma vez por semana”, finaliza Caló.
Fonte: Bolsademulher
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A Comunicação Familiar: entre o casal, irmãos, filhos e com amigos dos
filhos
A comunicação é uma arte. Não apenas uma forma de expressão, é além
disso uma necessidade para o ser humano, é uma capacidade especial que supõe
entregar-se ao outro.
A comunicação
não está apenas nas palavras. As palavras por si só não comunicam nada. Quando
por trás das palavras há vida e sentimento, quando por trás dos gestos existe
um ser humano, se dá então a possibilidade de escutar para quem ouve e de ser
aceito para quem fala: é o momento da comunicação. A experiência da linguagem
familiar é incomparável, se diria que algumas palavras são únicas e fazem parte
dos sentimentos daqueles que ali convivem, nada representam aos estranhos
porque é a linguagem da intimidade com características de compreensão e
aceitação.
QUALIDADES E CARACTERÍSTICAS DA BOA COMUNICAÇÃO:
• Permanente:
sempre é possível realizá-la
• Aberta:
há disposição de dar e receber
• Íntima:
se estabelece de você a você, de um eu a nós
• Equivalente:
permite relação de igualdade entre aqueles que se comunicam
• Sincera
e autêntica: Facilita uma entrega sem duplicidade nem enganos
• Desinteressada:
não busca o benefício próprio. A doação desinteressada recebe como gratificação
a própria melhora e a alegria de poder ajudar o outro a melhorar.
• Intencionada:
ambas partes devem querer comunicar-se. Quando uma parte falha deixa de haver
comunicação
• Compreensiva:
sabe aceitar ao outro, colocar-se no lugar do outro (under-stand)
• Humilde:
deve-se saber reconhecer as qualidades e limitações próprias e dos outros para
poder comunicar.
FOMENTAR A COMUNICAÇÃO
Quando nos
comunicamos de forma apropriada e positiva, sentimos uma sensação
satisfatória. Enche-nos de satisfação o compartilhar, sentimo-nos mais seguros
de nós mesmos e temos maior confiança no que somos e podemos. O sentimento de
segurança nos anima e o ânimo dá alegria quando, diariamente, tentamos cumprir
esses detalhes que fomentam a comunicação.
A COMUNICAÇÃO DO CASAL
A comunicação
no matrimônio é manter uma disposição pessoal de ajuda ao outro, de confiança
em suas possibilidades, de interesse por sua melhora. Se a comunicação conjugal
é satisfatória toda a relação é vista com otimismo, visando o bem e o
equilíbrio. Uma comunicação familiar plena é a base da felicidade familiar. A
harmonia conjugal permite uma adequada educação dos filhos na medida em que
estes se veem livres dos problemas e dificuldades dos pais, e se sentem guiados
e amados por pais que caminham juntos.
A comunicação
entre marido mulher necessita de naturalidade para dizer-se as coisas como são,
com sinceridade. Requer espontaneidade, para fazê-lo com graça, sem carga
dramática. Deve ser simples, para evitar duplas interpretações. Dentro desse
grande universo que compõe a comunicação conjugal, podem distinguir-se sete
pilares fundamentais. Todos e cada um devem ocupar um tempo e um lugar na
convivência diária do casal e em sua comunicação.
OS SETE PILARES DA COMUNICAÇÃO DO CASAL
1- Os valores: compartilha-se o
íntimo e pessoal, as convicções profundas.
2- Os sentimentos e os afetos:
todas essas “pequenas grandes coisas” que se contam os que se amam
3- Os filhos e o lar: os filhos e
o próprio lar, são temas obrigatórios de conversação entre os esposos
4- O trabalho profissional: esse
interesse pela atividade do outro
5- A sexualidade: caminhará bem
quando a vida de comunicação e relação funciona
6- A família política (parentes):
com boa diplomacia se garante a comunicação e se impedem atritos desnecessários
entre os esposos
7- O dinheiro e a economia
doméstica: deve-se compartilhar tanto a escassez como a abundância.
A crise no matrimônio
pode originar-se às vezes por uma comunicação defeituosa. A própria crise em si
supõe uma ruptura da comunicação. Esta ruptura se manifesta de forma aberta
quando o trato e o diálogo deixam de existir. Ou pode aparecer de forma velada
quando se continua a relação a base de monossílabos. Em todo caso o que se
pretende é que estes momentos de desacordo conjugal sejam transitórios e leves,
graças à boa vontade dos cônjuges.
A COMUNICAÇÃO COM OS FILHOS PEQUENOS
Durante os
primeiros anos de vida, a relação com os filhos costuma ser tranquila. A eles
lhes encanta estar com seus pais, os admiram e lhes contam tudo. Por isso é a
época ideal para concretizar uma sólida comunicação com eles. Uma comunicação
aberta entre pais e filhos.
Para isso é
conveniente fazer perguntas, dar-lhes a possibilidade de que encontrem soluções
por si próprios, deixar-lhes falar tudo o que for necessário. Com isso estamos
dando-lhes a oportunidade para que aprendam a expressar corretamente o que
pensam e sentem e o aprendam a transmitir.
Devemos
eliminar frases de carga negativa, pois destrói a possibilidade de uma
comunicação positiva. No entanto a serenidade e o afeto levam a criança a uma
resposta apropriada, damos a chance de ser sinceros.
Lembre-se: Os pais devem estar de
acordo e ter o mesmo critério. Do contrário os filhos se desorientam, ou
interpretam mal o que lhes foi falado e o resultado é a falta de obediência.
OS CASTIGOS
Para que a
comunicação com os filhos não produza falhas na relação, os pais devem tentar
ser justos em um tema tão complicado como o dos castigos. Para que os castigos
sejam eficazes educativamente e não deteriorem a comunicação são necessárias
algumas condições:
Poucos: quando se castiga
continuamente, perde-se a eficácia.
Curtos: é importante que a
criança saiba o porquê de sua má atuação.
Proporcionados: o castigo deve
ser imposto em função da falta cometida.
Educativos: pelo castigo a
criança aprende a modificar sua conduta inadequada. Os melhores castigos são os
que favorecem o hábito contrário.
Compreendidos: a criança precisa
compreender o porquê do castigo.
Imediatos: o castigo deve ser
aplicado logo após sua ação. Ele torna-se pouco eficaz quando deixado para o
dia seguinte.
Avisados com antecedência: é mais
eficaz que a primeira vez argumente por que isso está errado e se advirta que
da próxima vez haverá um castigo.
Cuidado! Se o castigo cumpre as condições que repassamos,
aplique-o. Se suspendemos os castigos ante as súplicas dos filhos, eles acostumam
mal e não aprendem a corrigir seus erros.
A COMUNICAÇÃO COM OS FILHOS MAIORES
Com a chegada
da adolescência os filhos tendem a mostrar um sentido crítico com relação a
seus pais e se produzem alguns sinais de alarme que podem preocupá-los.
Ainda que
possa parecer que os adolescentes são pouco receptivos, necessitam de seus pais
e de serem ouvidos para que possam encontrar a solução de problemas que os
inquietam.
Necessitam ser
ouvidos muito mais do que imaginamos. Se percebem nosso interesse, se animam em
contar suas confidências. Se somos como muros no qual rebatem suas melhores
tacadas, terminarão buscando outro “local” para jogar. Se ele não conta devemos
perguntar sobre suas coisas e eles percebem se existe um interesse real ou se
perguntamos apenas por rotina.
Para uma
relação de amizade é necessário muito diálogo. Falar é coisa de dois. Quase
sempre a conversação surgirá de forma espontânea. As reuniões de família são um
bom momento para se criar um clima de maior crescimento, estabilidade e
segurança para os filhos.
OS AMIGOS DOS FILHOS
Se quisermos
dar um valor verdadeiro e completo aos esforços realizados em nossa família
devemos ter presentes os amigos de nossos filhos. Primeiro porque o que nossos
filhos aprendem de bom em casa o levarão para fora, “contagiarão” seus amigos e
amigas e se dará um efeito multiplicador na sociedade. E, segundo, porque o
negativo que nossos filhos veem em seus amigos lhe parecerá chocante, e então
nos ajudará a educar os filhos no verdadeiro sentido da amizade que comporta
lealdade e generosidade.
Não devemos
ter medo de falar claro aos filhos com respeito a uma amizade, atitude ou
comportamento inconveniente. Faremos com prudência e carinho e sem ofender ao
amigo ou amiga, mais sendo o suficientemente claros nos conceitos para que não
fique nenhuma dúvida.
Temos que
buscar qualquer circunstância ou fato negativo que possa ser produzido por
parte de um amigo. Esclarecê-lo o quanto antes é a melhor forma de cortar pela
raiz o que poderia chegar a ser um mal grave (por exemplo: roubos, beber
escondido, fumar...)
Podemos
convidar aos pais e aos filhos para que venham a nossa casa, para que nos
conheçam e saibam como pensamos. É uma boa ocasião para ensinar com o exemplo
como se realiza a vida de relação, o saber estar e o saber compartilhar.
A COMUNICAÇÃO ENTRE IRMÃOS
É preciso
considerar, não apenas em teoria mas na prática, que cada filho tem uma
personalidade própria, com algumas virtudes e alguns defeitos pessoais. Cada
filho, mesmo vivendo no mesmo ambiente que seus irmãos, recebe de modo
diferente os mesmos estímulos, adquire diferentes experiências e, em
definitivo, tem uma biografia própria e diferente de seus irmãos. A cada um dos
filhos cabe esperar diferentes aspirações e realizações pessoais. Cada um deles
tem uma excelência pessoal própria. Há alguns costumes que devemos inculcar nos
filhos desde pequenos, como: pedir “por favor”, dizer “obrigado” e “pedir
perdão” – são atitudes fundamentais de uma boa educação e de reconhecimento da
dignidade dos demais.
As relações
entre irmãos poderiam ser qualificadas como divertidas, complexas e
contraditórias. Irmãos se beijam e brigam entre si, se defendem com unhas e
dentes ante os estranhos e formam uma equipe quando têm um objetivo comum.
Nossos filhos passam por uma idade de ouro na qual muitos pais gostariam de
manter. São pequenos diamantes a lapidar que amanhã podem converter-se em joias
preciosas.
A simpática e
estranha maneira de comportar-se entre irmãos é que deve nos servir como ponto
de partida para educá-los no aspecto da convivência familiar. Se o soubermos
fazer, conseguiremos que essas histórias de amores e cuidados se convertam em
verdadeira amizade e colaboração e compreensão em serviço mútuo.
Se
conseguirmos que nossos filhos estejam unidos a nós, estaremos em condições de
influenciá-los para que estejam unidos entre si. Na realidade é o único caminho
possível para conseguir que haja uma autêntica convivência entre os irmãos e se
produza uma comunicação fluente. No fundo se trata de ensinar a amar. Aprender a
amar os irmãos requer efetivamente uma aprendizagem.
Quando os
filhos veem amor e recebem afeto, aprendem a desenvolver o que recebem. A
criança que está acostumada a ver entre seus pais e irmãos compreensão e afeto,
assume isto como algo natural e, portanto o assume como próprio. Se o ambiente
no qual são criados carece de amor, é possível que mais tarde “ame” ao seu
próprio estilo, “ame” egoisticamente.
Devemos
procurar encontrar os meios com os quais se deve atuar em cada caso concreto,
para que realmente os irmãos se queiram entre si. Temos de conscientizar os
maiores de que são observados permanentemente pelos menores. É uma razão a mais
para que os maiores atuem com correção, já que é muito importante o exemplo que
dão. Nosso papel é reforçar a autoridade dos maiores ante os menores.
Os atritos
entre irmãos, prejudiciais e incômodos nas aparências, constituem realmente uma
ajuda para que se formem em seu sentimento de sociabilidade, conheçam a
insegurança e desenvolvam sua personalidade afirmando-se frente aos outros.
Apesar de ser
natural que existam atritos entre irmãos podemos sugerir alguns tópicos que
ajudem a melhor direcioná-los. Algumas regrinhas de ouro para a convivência:
- Responsabilidade
entre irmãos (uns pelos outros).
- Participação
familiar (a família é de todos).
- Respeito
pelas coisas e objetos alheios (pedir emprestado, devolver, guardar segredo,
bater a porta do quarto antes de entrar,...)
O nível de
trato e convivência entre irmãos depende do afeto real que tenham entre si
porque às vezes surgem brigas por coisas sem importância. Nem nossos filhos nem
nós somos perfeitos e é quase impossível evitar atritos e incompreensões.
Entretanto, devemos evitar que estas tormentas se cristalizem e se convertam no
estilo da família.
O final feliz
das situações de conflito inclui o perdão e a reconciliação.
A COMUNICAÇÃO FAMILIAR É O CAMINHO PARA A FELICIDADE
Fonte: IDE - Instituto
de Desenvolvimento da Educação
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Álcool
e adolescência
·
Alessandra Diehl
·
Gisele dos Reis Coutinho
Prevenir
e reduzir o beber entre adolescentes é uma responsabilidade coletiva,
que requer o envolvimento e a parceria das
autoridades governamentais,
das
famílias e da comunidade
O álcool, sem dúvida, tem um
importante impacto no cérebro dos adolescentes, não podendo ser considerado um
“produto qualquer”. Até bem pouco tempo, os pesquisadores acreditavam que o
nosso cérebro estava completamente amadurecido até o final da adolescência,
sendo este um período de intenso processo de desenvolvimento e maturação cerebral. No entanto, as
descobertas atuais apontam para o fato de que o nosso cérebro sofre um processo
de maturação até os 25 anos.
De modo geral, durante a
adolescência, as regiões cerebrais que nos dizem “Vá em frente”, representadas
pela região límbica, amadurecem mais rapidamente do que aquelas que nos dizem
“Não faça isso”, representadas pelo córtex pré-frontal. Portanto, não é difícil
imaginar que, se o uso de bebidas alcoólicas ocorrer durante essa fase de
amadurecimento cerebral, será observada uma série de consequências que
comprometem a delicada arquitetura e o funcionamento de neurotransmissores em
desenvolvimento, afetando a capacidade cognitiva e de aprendizagem, assim como
o comportamento de controle dos impulsos e emoções nos adolescentes, que se
encontram em um contexto de formação das habilidades mencionadas, especialmente
relevantes entre seus pares.
Muitos de nós – pais, professores e
profissionais da saúde – sabemos que o uso de álcool é um grave problema de
saúde pública no Brasil e em vários outros países. O álcool, uma substância
legal, é a droga mais largamente consumida por jovens do mundo todo. Em uma
tendência quase mundial, tem-se observado que o hábito de beber está aumentando
gradativamente entre as meninas e, em alguns locais, supera o índice entre
meninos da mesma idade. Os adolescentes brasileiros estão iniciando o uso de
álcool cada vez mais cedo (em média aos 13,9 anos) e passando a um uso regular de
álcool também muito rapidamente (em média aos 14,6 anos), sendo que 24% desses
mesmos adolescentes bebem pelo menos uma vez ao mês.
O bebê típico dos adolescentes é
conhecido como beber em binge. Em
geral, eles bebem muito em curto espaço de tempo ou em uma única ocasião. Esse
padrão de consumo promove elevados níveis de álcool e, por conseguinte, aumenta
a vulnerabilidade desses jovens a sérios riscos. A realidade de muitos dos
adolescentes que concluem o ensino médio é manter ou agravar o padrão de beber
após o ingresso na faculdade. São demasiadamente conhecidas as inúmeras
“chopadas” em diversos campi espalhadas pelo país afora, onde são promovidas
festas regadas a muita bebida – e, sobretudo, bebida barata.
Esse uso durante a adolescência
predispõe os jovens a uma série de riscos, tais como violência interpessoal,
mais brigas e argumentações negativas com os pais, problemas na escola no dia
seguinte ao beber, iniciação sexual e gravidez precoce (com arrependimento posterior), acidentes de
trânsito, traumatismos, quedas, suicídio, diminuição do desempenho acadêmico,
envolvimento em atividades criminais e risco aumentado de dependência do
álcool. Jovens que começam a beber antes dos 15 anos têm quatro vezes mais
chances de desenvolver dependência na vida adulta e duas vezes e meia mais
chances de se tornar abusadores de álcool do que aqueles que começam a beber
após os 21 anos.
Beber em um padrão característico de
dependência já ocorre em cerca de 7% dos adolescentes de 12 a 17 anos dos
maiores centros brasileiros. Isso significa dizer que muito provavelmente
estamos falando de jovens que podem apresentar tremores das mãos, náuseas e
vômitos ao acordar pela manhã, suores pelo corpo durante a noite por já terem uma constelação de sintomas característicos
de abstinência do álcool, além de intensa vontade de beber novamente, o que
chamamos de “fissura”: uma vez iniciado o uso, não conseguem mais controlar-se
e bebem até ver o fim de todas as garrafas de bebidas que estão por perto.
Soma-se a isso um progressivo desinteresse por outras atividades que outrora
eram prazerosas, e o álcool vai ocupando cada vez mais espaço durante o dia do
jovem.
No Brasil, a compra e a venda de
bebidas alcoólicas para jovens antes de 18 anos é proibida por lei há muito
tempo. Infelizmente, porém, a maioria dos jovens ouvidos em algumas pesquisas
considera que comprá-las no país é fácil ou muito fácil, sendo que 87,4% deles
acha especialmente fácil adquirir cerveja em casa, em festas de 15 anos, bares,
supermercados e até mesmo em festas juninas da escola, enquanto apenas, 1,1% já
tentou comprar bebida alcoólica e não conseguiu.
O governo do estado de São Paulo, na
vanguarda das políticas públicas, decidiu acertadamente investir seus esforços
em fiscalizar uma lei que já existe e assim punir estabelecimentos que vendam,
facilitem ou permitam o consumo de bebidas (uma droga ilícita e amplamente
disponível, mas sem um mercado regulado) para jovens abaixo de 18 anos, com a
criação de uma lei que prevê punições aos infratores.
O uso de álcool durante a
adolescência tem um elevado custo financeiro e outros tantos custos associados
à dor e ao sofrimento de muito jovens e suas famílias, que talvez não seja algo
facilmente mensurável em números. Nos estados Unidos, por exemplo, o custo
associado ao beber entre menores foi de US$62 bilhões em 2010. Desse valor,
US$1,3 milhão foi gasto devido à síndrome alcoólica fetal em grávidas
adolescentes (já que a idade mínima para dirigir naquele país é 16 anos) e
US$2,5 milhões em tratamento de jovens devido a transtornos relacionados ao
abuso de álcool.
Se esse dinheiro fosse poupado pela
não necessidade de ser gasto com tais finalidades, seria possível revertê-lo
para outras tantas atividades voltadas à formação e ao fortalecimento de várias
habilidades e fatores protetores dos nossos jovens. Na verdade, para cada US$1
investido em atividades de prevenção, são economizados US$10 em tratamento no
futuro, o que denota que prevenção segue valendo a pena.
Então, se reduzir o beber entre adolescentes
continua sendo algo desafiador diante de estatísticas tão assustadoras e das
modestas conquistas dos últimos anos em muitos países, inclusive aqueles
desenvolvidos e mais ricos, como estados Unidos, Inglaterra e Austrália, será
que realmente existe um erro pedagógico em nossa sociedade e em nossas
mensagens aos jovens? Tudo indica que sim, já que vivemos – particularmente no
Brasil – em uma cultura que associa a cerveja à ideia de felicidade,
sensualidade, propriedades refrescantes e, sobretudo, a nossas “paixões
nacionais”, como o futebol, a música e o carnaval.
Até mesmo ídolos consagrados,
símbolos de beleza, inocência e juventude, como a cantora Sandy, em recente propaganda de uma marca de cerveja com
o slogan “Todo mundo tem o seu lado devassa”, vendem a ideia de que parece não
existir ninguém “tão careta assim”. Então se pressupõe que “Tudo bem beber e
que, aliás, você vai ficar mais interessante se beber”. Não é de hoje que a
indústria do álcool tem-se dedicado a atrair novos consumidores, com maciça
publicidade e estratégias de marketing
ao público jovem. Alguns exemplos são o festival da música Skol Bits e a
crescente introdução no mercado das bebidas chamadas “tipo ice”, com menor teor
alcoólico.
A família também exerce uma importante
influência no uso de álcool durante a adolescência e contribui com algumas das
estratégias pedagógicas equivocadas. Estudos
indicam que o chamado “uso supervisionado”, que ensina o beber
responsável e com
moderação
durante a adolescência, dentro de casa ou junto com os pais, por exemplo, traz
sérios riscos de evoluir para o uso em um padrão nocivo e até mesmo de
dependência quando esses jovens vão para a faculdade. O chamado uso
supervisionado parece não transmitir uma mensagem de beber seguro. Por outro
lado, adolescentes que não bebem assim e postergam o início do uso de álcool
para além da adolescência têm menos chances de desenvolver alcoolismo ou beber
de forma perigosa e nociva à saúde no futuro.
Medidas de prevenção de uso, abuso e
dependência de álcool entre os adolescentes têm sido adotadas com o lema
“Comece a falar antes que eles comecem a beber”. Nesse sentido, têm crescido as
recomendações de especialistas para que a escola possa também se apropriar da
tarefa de reduzir o hábito de beber entre adolescentes. Essas estratégias vêm
sendo amplamente disseminadas pelo Pacific Institute for Research and
Evaluation (PIRE) há muitos anos em congressos e atividades diversas, ligadas a
um local chamado Underage Drinking Enforcement Training Center.
Entre as constatações, está a de que
as campanhas de conscientização e educação sobre “beber de forma segura” na
escola e na comunidade irão possivelmente gerar resultados limitados. Escolas
que adotam a postura de “não beber nada”, programam as estratégias sociais e
legais relacionadas ao não beber antes da idade permitida por lei e fiscalizam
essas leis, denunciando os estabelecimentos das imediações dos colégios
que estão vendendo bebidas para
adolescentes, muito provavelmente às primeiras. Desse modo, festas realizadas
na escola ou com a participação de alunos não podem permitir a venda de bebidas
alcoólicas, nem mesmo o famoso vinho quente ou quentão em festas juninas ou nas
tão sonhadas e aguardadas festas de 15 anos.
As velhas e as novas mídias,
incluindo as mídias ambientais (por exemplo, banheiros de “baladas”
frequentadas por jovens) e sociais, como facebook, Twitter e Youtube, podem ser
fontes de divulgação de matérias sobre prevenção do beber entre adolescentes,
com trabalhos e histórias de sucesso feitos por e para adolescentes. É preciso
incluí-las no processo de conscientização na escola e nas comunidades,
desconstruindo diversos mitos e falsos heróis que associam a diversão e o
prazer única e exclusivamente ao beber.
Portanto, prevenir e reduzir o beber
entre adolescentes é, sem dúvida, um problema complexo e um desafio que não
demanda uma solução simples, mas também é uma responsabilidade coletiva que
requer o envolvimento e a parceria das autoridades governamentais, das famílias
e da comunidade para modificar essa cultura que ainda ameaça o bem-estar
imediato e a longo prazo de muitos jovens, bem como daqueles ao seu redor.
·
Alessandra
Diehi é psiquiatra da Unidade de Pesquisa em Álcool e
Drogas (UNIAD/UNIFESP), especialista em Dependência Química e Sexualidade
Humana.
·
Gisele dos Reis Coutinho é psicóloga,
especialista em infância e adolescência.
Fonte: Revista
Pátio Ensino Médio. Ano 4. Nº 1.Março/Maio 2012
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